Bibliotecário da UFC é selecionado em programa nacional com projeto de preservação audiovisual
Mestre em Ciência da Informação, Edvander Santos está desenvolvendo um projeto que visa preservar o acervo e facilitar o o a produções audiovisuais das universidades públicas
O bibliotecário Francisco Edvander Pires Santos, de 37 anos, foi recentemente selecionado para participar do programa Catalisa ICT, do Sebrae Nacional — uma iniciativa que apoia projetos com potencial de se tornarem soluções para desafios sociais e econômicos. Mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Edvander desenvolveu um estudo que visa preservar e facilitar o o online a conteúdos produzidos por universidades públicas no Brasil.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
O desejo de trabalhar com produção audiovisual surgiu ainda na época do vestibular, em 2007, quando Edvander encontrou na Biblioteconomia a possibilidade de atuar nos Centros de Documentação das emissoras de televisão.
“Eu não sabia como, mas naquela época tinha certeza que queria trabalhar com produção audiovisual — não no sentido de produzir e editar, mas de organizar e categorizar o acervo. Queria, de alguma forma, poder proporcionar o o àquela produção”, relata.
No início de 2010, Edvander ingressou como estagiário na biblioteca O POVO, indo em julho do mesmo ano para o arquivo de imagens da TV O POVO, onde depois se tornou gestor. Nesse período, ele pôde não só iniciar sua carreira, mas usar a experiência do trabalho como objeto de estudo.
“Foi com essa experiência que consegui concluir meu TCC, no qual pude propor técnicas de organização e categorização de arquivos de imagens. Na realidade, essa experiência me ajudou em muitos outros trabalhos na graduação, mas transformá-la em objeto de estudo no TCC me fez perceber a amplitude e complexidade dos acervos audiovisuais”, lembra.
Um repositório de livre o a produções audiovisuais
Após outras experiências, ele ingressou em 2014 como bibliotecário na UFC, já sem planos de trabalhar com audiovisual. No entanto, pôde retomar o tema em sua pesquisa de mestrado, que ganhou um “escopo mais teórico e epistemológico”, sendo discutido na perspectiva da Ciência da Informação.
Em sua pesquisa, Edvander apresentou parâmetros e orientações para a gestão de conteúdos audiovisuais gerados por instituições federais.
O trabalho abordou um problema recorrente no Brasil: materiais como documentários, podcasts, videoaulas, vídeos institucionais, entre outros, ficam dispersos em mídias físicas, plataformas não oficiais ou arquivos pessoais. Essa fragmentação dificulta o o e, muitas vezes, leva à perda dos conteúdos.
“No decorrer da pesquisa eu pude diagnosticar várias categorias de produção audiovisual na UFC, as quais estavam espalhadas, gerando o que a gente chama de ‘massa documental’. Com isso, pude propor critérios e diretrizes de organização”, explica Santos.
A partir da dissertação, surgiu a proposta de criação de um repositório de livre o, capaz de reunir todos esses materiais em uma plataforma digital. Para isso, foi inicialmente utilizado o software DSpace; com o avanço da pesquisa, ou-se a utilizar o Tainacan, uma tecnologia mais flexível e potente voltada à preservação digital.

Além de facilitar o o, a proposta de Edvander busca preservar e valorizar o patrimônio audiovisual das instituições públicas do País. O estudo oferece ainda um modelo técnico e metodológico para organizar e catalogar esse acervo.
Avanços para o projeto
A proposta de Edvander é uma das mais de mil pesquisas selecionadas em todo o Brasil pelo Sebrae para participar do programa Catalisa ICT.
Com a seleção, o projeto poderá agora avançar para novas etapas, como a formação de equipe e captação de possíveis clientes. Um dos objetivos é oferecer o serviço de curadoria audiovisual para canais e instituições que produzem conteúdo educacional.
Edvander já realiza esse trabalho na UFC em projetos como o PróInclusão, Rastros Urbanos e Renafor, ligados à área da Pedagogia.
O bibliotecário também destacou o desafio de mapear e organizar o conteúdo disperso em plataformas como o YouTube, onde hoje se concentra boa parte da produção audiovisual acadêmica. Segundo ele, esse mapeamento é essencial para garantir a memória institucional e facilitar a reutilização do material em novos contextos.
Outro campo promissor, apontado por Edvander, é o da podosfera, o ecossistema que envolve podcasts. Segundo ele, este é "outro metaverso", mas que também necessita de curadoria e preservação.
Edvander reforça que o modelo de repositório proposto é aberto e replicável, podendo ser adaptado por outras universidades e centros de pesquisa. “A replicabilidade foi um dos critérios de seleção do Sebrae. A proposta não se limita à prestação de serviço, mas também pode envolver formações e apoio técnico para instituições que queiram montar seus próprios repositórios”, afirma.
O bibliotecário acredita ainda que o projeto pode extrapolar o eixo acadêmico. Ele vê possibilidades reais de aplicar o modelo em outras áreas, como emissoras de televisão e plataformas de streaming, que também enfrentam desafios relacionados à preservação digital de seus acervos.
“A digitalização é um caminho sem volta. É dispendiosa, mas o custo-benefício a longo prazo vale o investimento”, defende. “Poder trazer meu objeto de estudo para participar dessas mentorias, na perspectiva da inovação e do empreendedorismo, é motivo de muita alegria para mim, pois agora ele vai poder se materializar. Com isso, a proposta também pode se expandir para além da UFC, proporcionando uma rede colaborativa de prestação de serviço para outros canais acadêmicos que queiram essa curadoria do material produzido”, conclui.
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